Então ouvi a voz do Senhor, conclamando: "Quem enviará? Quem irá por nós?" E eu respondi: "Eis-me aqui. Envia-me!" - Isaías 6:8.
Meu nome é Nadieliz Machado Foizer Moraes, tenho 53 anos, sou casada com Samuel B Moraes e temos três filhas, Natassja, Rayssa e Maressa. Atualmente sou membro na Catedral Metodista de São Paulo. Nadi ou, simplesmente Na, é como sou conhecida na Igreja Metodista desde pequena. Nos últimos cinco anos, tenho participado da Missão Amazônia no Barco-Hospital Metodista como dentista e coordenadora da equipe 3RE.
As primeiras lembranças que tenho sobre missões e missionários são da Escola Bíblica de férias, na IM Ipiranga, na qual cresci. Nunca me esqueci de canções como: “Cristo ama as criancinhas” e “Posso ser um missionariozinho”.
Um pouco mais tarde, aprendi que a melhor tradução para a grande comissão de Jesus em Mt 28:19, não é “IDE por todo mundo e pregai o evangelho...” e sim “INDO por todo mundo”. Assim, desde cedo, entendi que todos nós temos a responsabilidade de viver anunciando o evangelho e valores do reino de Deus em todo tempo. Ser missionária em tempo integral.
Sempre me interessei pela cultura indígena e eu gostava muito de assistir os programas de TV sobre a região Amazônica.
Em meados dos anos 80, num acampamento, aconteceu o tal chamado missionário. O falecido Bispo Silas Franco contou-nos sobre sua experiência e desafios entre indígenas na região do Mato Grosso. Eu estava fascinada! Na minha cabecinha de adolescente, associava a conversa dele aos indígenas da Amazônia. Ao final ele disse algo assim: “Estou velho e doente, depois que eu partir, quem irá em meu lugar?”, prontamente levantei a mão e ele orou por mim.
Dna. Emília Reis, (prof. E.D), me dava livros sobre missões. Ela insistiu que era bom que eu tivesse uma profissão, para melhor servir a Deus e aos irmãos. Visitar o Doulos, um Barco-Biblioteca, e o livro, `Fazedores de Tendas’, de P.Lai, também me influenciaram muito. Conto isso para ressaltar a importância da Escola Dominical e EBF no plano missionário da Igreja Metodista.
Minha história é muito diferente daquelas pessoas que largam tudo e vão pra outras terras pregar o Evangelho. Até cheguei a pensar na possibilidade. Eram muitos os sonhos na juventude e a vida foi acontecendo.
Cursei a faculdade de Odontologia, casei-me, tive minhas três filhas e o sonho de ir à Amazônia, ficou guardado no coração.
Passamos a investir na vida de nossas filhas para que pudessem participar de Projetos missionários e foi numa missão no Chile, que minha filha Rayssa conheceu uma jovem médica que iria para o Barco-Hospital Metodista com equipe da Igreja Metodista em Cabo Frio/RJ e precisavam de dentista.
Então, em 2014, prestes a completar 50 anos de idade, eu pude ir para a Amazônia pela primeira vez!
A viagem no barco – hospital demorou quase 20 horas até a primeira comunidade e quando aportamos naquelas terras indígenas, lembrei-me do meu chamado. Era como se o Senhor sussurrasse em meus ouvidos:
“Eu não me esqueci de você. Ainda é tempo de trabalhar entre esse povo”.
Sendo dentista, foi fácil saber o que fazer lá, mas deparei-me com uma dura realidade. O nº de desdentados é muito alto nas comunidades e relatos de maus tratos, e crianças traumatizadas pelo tratamento odontológico, me entristeceram. Por outro lado, ouvi também que o povo da “Lancha Metodista” tratava aqueles indígenas com amor. E assim, decidi tratar aquelas pessoas com respeito, usar meu dom e restaurar mais dentes do que extrai-los. Fazer daquele momento, uma oportunidade para falar de esperança e amor de Deus. Cada paciente sentado ali naquela cadeira do consultório do barco, no mínimo, recebe um abraço e uma palavra de benção.
Em 2016 fui desafiada a formar e coordenar a primeira equipe da 3ª região no Barco-Hospital Metodista, e precisei olhar as necessidades das comunidades indígenas além do consultório: orientação nutricional, treinamento pedagógico, visitas às pessoas acamadas, distribuição de bíblias, entre tantas outras coisas. Há muita carência na área da saúde e a falta de saneamento básico trás muitos problemas a população ribeirinha.
Eu não entendo a missão no Barco-Hospital Metodista como “catequista”, em que um dogma religioso é imposto àquele povo, por outro lado, não vejo sentido em fazer atendimentos sem falar do amor de Deus. Por isso, nós, da equipe 3RE, trabalhamos o tema: “Eu vim para que tenham vida” Jo 10:10b.
Somos recebidos com muita expectativa e a missão é dinâmica. Ficamos no máximo dois dias em cada comunidade, assim, precisamos de sabedoria e graça divina para fazer diferença entre os ribeirinhos. Todo atendimento, palavra ou gesto devem influenciar de forma a melhorar a vida daquelas pessoas amadas do Senhor que estão tão isoladas pelas aguas.
Voltar às comunidades me permitiu ver alguns bons resultados: uma jovem mãe disse que me observou com minha filha Natassja, que participou de duas missões comigo, e desejou um relacionamento parecido com seus filhos. Outra aprendeu a limpar as mãos antes de preparar os alimentos, um menino mostrou-me os dentes bem limpos, uma menina contou que não quer “embuchar” tão cedo, quer estudar e ajudar seu povo. Hoje fico feliz em ouvir mais pessoas que querem restaurar os dentes do que extrai-los. É a Vida, dom de Deus que estamos cuidando. Jesus se deu por essas vidas preciosas e nossa missão é fazê-las entender que cuidar do corpo, da terra, da água, da educação, faz parte do plano de Dele. É pouco o que fazemos diante de tantas necessidades, por isso creio ser tão importante levarmos a esperança de viverem a Paz do Senhor, que excede a todo entendimento, em toda e qualquer situação.
Entristece-me quando ouço comentários que a missão no Barco–Hospital, não traz muitos frutos à Igreja Metodista, que é de alto custo, ou mesmo que é pra quem gosta de passear.
Tenho absoluta certeza que a missão no Barco-Hospital Metodista, como Igreja flutuante e comunidade a serviço do povo, leva o amor de Deus em forma de atos de misericórdia e colhe frutos para o Seu Reino. Em 2017, o barco encalhou e o que parecia ser um grande problema resultou na conversão do barqueiro que foi nos socorrer. Nada acontece em vão!
Entretanto, não se faz missão sozinha! É importante o envolvimento da família e da Igreja local, pois ser missionário requer investimento de tempo, vida, dinheiro, muita oração e planejamento. Louvo a Deus pela Catedral Metodista de SP e a Sede Regional da 3RE que nos dão suporte na Missão Amazônia e creio que Ele tem colocado pessoas certas para fazerem parte das equipes. Sinto também que a Missão Amazônia nos faz rever os conceitos consumistas da metrópole. Ao ver aquele povo viver com tão pouco, penso que é melhor economizar e comprar uma passagem pra Manaus, para embarcar em mais uma Missão Amazônia, do que gastar com futilidades.
Graças a Deus, os conceitos inculcados desde a infância, prevaleceram em mim e no tempo certo Ele me permitiu ir a Amazônia falar de Cristo, que dá vida e vida abundante!
Se quiser saber um pouco sobre a Missão no Barco Hospital acesse o blog www.barcohospitalmetodista3re.blogspot.com
Informações barcohospitalmetodista@gmail.com
Nadieliz Machado Foizer Moraes
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