Fraternais nas relações de uns para com os outros
Para início de conversa precisamos entender duas coisas; 1 - A Igreja não “cria” a comunhão, 2 - não existe igreja “sem comunhão”. A comunhão cristã é uma obra da Graça de nosso Senhor Jesus Cristo, e nós participamos desta “obra da Graça” quando nos envolvemos com as pessoas que fazem parte de nossa comunidade de Fé. Todas as bênçãos que temos ou recebemos vem à nós pelos méritos de Cristo.
Uma das manifestações da comunhão é a fraternidade cristã. Uma igreja saudável é uma igreja onde existe um espírito de fraternidade. O termo deriva do latim, frater, isto é, irmão, daí fraternidade. No grego do Novo Testamento a palavra é adelphos (irmão), daí irmãos, irmandade. O amor fraterno é o amor de irmão para com irmão.
Por que somos irmãos? Porque estamos unidos pelo mesmo sangue. É isso que nos faz irmãos: o precioso sangue de Cristo, pelo qual a igreja, e os que buscam a salvação, estão eternamente lavados, ligados e preparados para a vida eterna.
“Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, visto que Deus assim nos amou, nós também devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor está aperfeiçoado em nós.” (1 João 4.10-12)
Toda igreja local, deve ter Cristo como centro, sendo assim um microcosmo do Corpo de Cristo e deve viver intensa e intencionalmente o amor fraternal. O amor fraternal é prático. Ele é expresso em múltiplas ações. Não basta dizer que amamos uns aos outros. Precisamos mostrar amor na forma como resolvemos conflitos, perdoamos ofensas, cuidamos dos mais necessitados, disciplinamos os que estão andando contrários à Palavra de Deus e também encorajando uns aos outros.
Amar é o mandamento supremo da vida humana. É uma realidade envolvente, porque quem ama aproxima-se do outro e procura fazer de tudo para conviver bem e querer que esse outro seja feliz. Na verdade, consegue ter grandes e verdadeiros amigos. Cria relacionamentos e fraternidade, possibilitando formar convivência madura e de crescimento dentro da cultura da partilha e do caminhar junto.
O Amor fraterno, proposto pela lei de Deus, não está acima de nossas possibilidades. Quando é assumido, ele deixa consequências ou exigências de fidelidade e compromisso de vida autêntica. O amor supera todo tipo de individualismo e de ações irresponsáveis, e canaliza tudo para o bem das pessoas envolvidas. Causa experiência de busca e de prática da justiça social.
Todos os mandamentos do decálogo estão sintetizados no amor a Deus e ao próximo. A realidade é humana, com prática de fraternidade, convivência nos diversos ambientes para construir o reino da vida, do respeito e da ajuda. Amar é sair do fechamento para ir ao encontro de quem está distante da realidade humana, de quem vive no submundo da sociedade.
O Evangelho fala da parábola do bom samaritano, daquele que ama mesmo não conhecendo quem estava caído pelo caminho, porque o amor supera todos os obstáculos. O caído era judeu, considerado inimigo dos samaritanos. Seus préstimos foram sem limites, porque amou muito e recuperou a vida daquele abandonado na sua total fragilidade. Quem ama defende a vida e sua dignidade.
Todas as pessoas que realmente amam têm uma sabedoria divina. Amar o próximo é dever número um de quem ama a Deus e procura seguir seus ensinamentos relativos ao amor. Todo coração generoso tem facilidade de amar o próximo e cuidar dele. Ser próximo significa ser solidário com as necessidades mais urgentes do outro e consegue superar a cultura da competição e do lucro fácil.
Portanto, abracemo-nos com carinho e pureza; socorremo-nos com alegria; ajudemo-nos com presteza; admoestemo-nos com firmeza e ternura e consolemo-nos com as eternas promessas do Senhor.
“Seja constante o amor fraternal.” (Hebreus 13.1a)
Tolerantes e respeitadores das ideias e opiniões alheias
Romanos 14; 15. 1 – 7
“Odiar é escolher a facilidade simplista e redutora do desdém como fonte de satisfação. É cavar um fosso onde cairão sufocados o agente do ódio e sua vítima. Odiar é atear o fogo da guerra em que as crianças se tornam órfãs, e os velhos, loucos de dor e de pena. Em religião, o ódio esconde a face de Deus. Em política, o ódio destrói a liberdade dos homens. No campo das ciências, o ódio está a serviço da morte. Em literatura, ele deforma a verdade, desnaturaliza o sentido da história e encobre a própria beleza sob uma grossa camada de sangue e de feiúra. O ódio é como a guerra: uma vez começada, é tarde demais.” (Elie Wiesel -- WIESEL, Elie. Prefacio. Em: A intolerância. Rio de Janeiro: Bertrand 2000, p. 8)
A intolerância religiosa pode ser a pior de todas as intolerâncias, pois, para muitos, passa a ser fruto de uma convicção que precisa ser aplicada custe o que custar, doa a quem doer.
Como muitas igrejas, a comunidade estabelecida em Roma era bastante heterogênea, comportando pessoas com diferentes tendências. Várias questões geravam desentendimento entre cristãos, principalmente Judeus e gentios convertidos que confundiam a fé com os usos e costumes de sua cultura.
O choque cultural era inevitável. Infelizmente a intolerância de alguns comprometia a comunhão de toda a igreja. O apóstolo toma conhecimento do problema e passa a orientar os cristãos sobre o assunto. As instruções de Paulo continuam atuais e são necessárias à Igreja em todas as épocas. Ao invés de atacar os intolerantes, o apóstolo aborda a questão a partir de alguns recursos que inculcarão nos cristãos o espírito de tolerância. Como saber se somos tolerantes ?
1. Tolerância é sinal evidente da espiritualidade
Inicialmente, o apóstolo menciona a necessidade de tolerância como fruto de uma genuína espiritualidade interior. Os romanos, equivocadamente, estimulavam a religiosidade aparente, dependente de determinados hábitos ligados a sua cultura.
Medir a espiritualidade das pessoas, ou julgá-las, através de pesos e medidas da aparência, é desprezar a espiritualidade do coração, que é intima e pessoal. Muitas pessoas preocupam-se excessivamente com as formas e ignoram o conteúdo. Cuidado!!! Aliás, muita gente se esconde na aparência de hábitos religiosos ostentando uma (falsa) espiritualidade, que encobre até mesmo pecados secretos. O apóstolo mostra que a intolerância encobre a falsa espiritualidade.
Ser tolerante não é ser conivente com os erros ou pecados das pessoas, mas sim, amá-las, andar com elas, corrigi-las com respeito e brandura. Pois, sabemos que apesar de suas limitações e fraquezas essas pessoas são importantes para Deus e para sua igreja também. Fazemos isto, porque reconhecemos que um dia também já fomos acolhidos/as na comunidade da fé, e ali fomos orientados, exortados e direcionados para o caminho da salvação. A intolerância impede a prática do perdão impossibilitando o crescimento do faltoso.
Ao lidar com a pecadora surpreendida em adultério, Jesus oferece uma preciosa lição aos intolerantes que ali estavam:
“Aquele que dentre em vós estiver livre de todo e qualquer pecado, que atire a primeira pedra” (João 8.7)
O único que não tinha pecado, diz à pecadora:
“ninguém te condenou ?...Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais.” (João 8. 10 – 11).
Na cruz, Ele orou em favor dos seus acusadores dizendo:
“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23. 35)
2. A tolerância é capaz de conviver com as diferenças
Somos criados à imagem de Deus, mas profundamente marcados pela nossa individualidade. Neste aspecto, cada pessoa é única, distinta, insubstituível, inimitável. Felizmente, não fomos fundidos em um mesmo molde. Devemos aprender a conviver e a canalizar estas diferenças de forma construtiva.
Diferimos uns dos outros sim, porque Deus nos criou com diferenças e nos deu o livre arbítrio. A individualidade de cada um/uma, demostra a criatividade e originalidade do Senhor e enriquece o mundo e a igreja, que é formada de diferentes membros, com dons e talentos distintos, que se completam mutuamente na realização dos propósitos divinos.
Ao instruir os cristãos romanos e coríntios (Rm. 12.3-8 / I Co. 12.12-31), o apóstolo descreve a Igreja como um dinâmico e saudável corpo que goza de perfeito equilíbrio e unidade. Embora seja um organismo complexo e heterogêneo, a Igreja precisa aceitar as diferenças como oportunidade de crescimento. Nela são bem-vindos: negros, brancos, amarelos, vermelhos; crianças, jovens, juvenis, adultos, idosos/as; analfabetos, intelectuais, técnicos; ricos, pobres; civis, militares; na visão política de serem de esquerda ou de direita; enfim todos independentemente de serem fundamentalistas, tradicionais, avivados, pentecostais.
É preciso acreditar que o Deus que nos fez diferentes, tem o poder de nos unir. O choque de gerações, os conflitos de opiniões ou de comportamento, devem dar lugar a um ambiente fraterno de convivência respeitável que tolera e celebra estas diferenças. Para isto, é importante aprender a respeitar a consciência e a opinião do próximo.
3. A tolerância é aliada da liberdade
Como cristãos, somos livres. Como comunidade da liberdade, a igreja entende que há uma responsabilidade individual que compromete cada uma diante de Deus, o único juiz, diante de quem todos nós prestaremos contas. E, quando, naturalmente, muitas questões que nos incomodam serão resolvidas.
Lógico que entendemos que liberdade não é irresponsabilidade, nem tampouco libertinagem. Recomenda o apóstolo:
“Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor. (Gl 5. 13)
A liberdade cristã sempre envolve o próximo, e o seu limite é o amor (Gl. 5. 13-15).
Torna-se necessário aplicar a tolerância sobretudo com os mais fracos na fé, ou com os que por vezes querem impor suas vontades e ideologias como verdade para toda a igreja. Para responder a isto temos nossa doutrina, os cânones, as cartas pastorais, os regimentos e regulamentos da igreja que nos servem de baliza e nos dizem quando saímos do caminho da sã doutrina.
De modo algum podemos deixar de exercitar o amor, pois, com carinho, respeito, oração poderemos ajudar irmãos e irmãs que precisam de gestos simples que demonstrem o amor que temos por eles/elas. Agir com firmeza e determinação, mas principalmente com ternura e carinho.
Por isto devemos orar:
“Senhor, ajuda-me a conciliar a verdade com o amor; a agir com firmeza sem perder a ternura, a ser fiel sem ser inflexível, a entender liberdade com responsabilidade. Enfim, ensina-me a ter a mesma tolerância do seu Filho, Jesus. Amém !!!”
Deus lhes abençoe!!!
Ronald Silva Lima
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