Palavra da ADH ao revmo. Bispo José Carlos Peres sobre a atual situação das vítimas do desmoronamento do Edifício Wilton Paes de Almeida.
“Escutem aqui, exploradores do necessitado, opressores dos pobres do país! Vocês ficam maquinando: «Quando vai passar a festa da lua nova, para podermos pôr à venda o nosso trigo? Quando vai passar o sábado, para abrirmos o armazém, para diminuir as medidas, aumentar o peso e viciar a balança, para comprar os fracos por dinheiro, o necessitado por um par de sandálias, e vender o refugo do trigo?» Javé jura pelo orgulho de Jacó: Não posso jamais me esquecer de tudo o que essa gente faz. Não é por isso que a terra treme e seus moradores todos se apavoram? Não é por isso que toda ela sobe como o rio Nilo e, como o rio do Egito, baixa novamente?” Amós 8.4-8
São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Constituição Federal artigo 6º.
A Assessoria de Direitos Humanos da Igreja Metodista 3RE fez-se presente, através de Claudete Pagotto, Danilo Prado, Fabio Martelozzo Mendes, Oswaldo dos Santos Júnior e Paulo Francisco Fernandes, no Largo do Paissandu no sábado, 05/05/2018 às 16h, com o objetivo de conhecer, conversar com as pessoas, analisar a situação e recomendar a possível atuação da Igreja Metodista 3RE junto às vítimas do desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, ocorrido na madrugada de primeiro de maio último.
Dirigimo-nos para o Largo do Paissandu e conversamos com os assistentes sociais da prefeitura, tomando ciência sobre o estado no qual os desabrigados se encontram no presente momento. Também inteiramo-nos sobre os procedimentos de entregas de donativos às vítimas. Pudemos perceber que as vítimas do desmoronamento passaram a acampar junto à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, sendo cercados por grades de metal, enquanto uma grande quantidade de pessoas em situação de rua passou a se concentrar do lado de fora das grades de metal. Fomos informados que com a concentração de pessoas junto ao Largo do Paissandu e com a chegada de donativos, essas pessoas em situação de rua instalaram-se no mesmo local visando ter acesso a esses donativos de alimentos, roupas e brinquedos que passaram a ser direcionados para aquele local. Perguntamos aos assistentes sociais sobre a existência de serviços e assistência religiosa sendo prestados no local e fomos informados que grupos evangélicos têm se reunido e prestado assistência aos bombeiros que atuam na região. Ao perguntarmos sobre a assistência religiosa aos desabrigados, fomos orientados a conversar com as lideranças do movimento de luta por moradia que atuava no edifício.
Ao conversar com o líder do movimento que atua no local, identificado apenas como “Careca”, fomos informados que os donativos recebidos têm sido suficiente para atender tanto as vítimas do desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida como também as pessoas em situação de rua que acorreram ao local. Fomos informados que há uma grande quantidade de crianças, que têm sido atendidas no espaço do viaduto Pedroso, onde outrora funcionou a Comunidade Metodista do Povo de Rua. E fomos informados que não tem ocorrido assistência pastoral e religiosa junto às vítimas do desabamento. Ao ser perguntado sobre a possibilidade de atendimento pastoral, o líder do movimento mostrou-se receptivo e aberto à atuação da igreja junto aos moradores. Após nossa conversa com o “Careca”, fomos interpelados por uma pessoa chamada Julia Roberts que fez um apelo solicitando a presença da igreja no local.
Após a visita ao local, percebemos que o movimento de luta por moradia que atuava no edifício Wilton Paes de Almeida não é um movimento estabelecido e consolidado na luta por moradia na cidade de São Paulo, não possuindo uma pauta de reivindicações e uma atuação política clara e reconhecida pela sociedade.
Também é possível concluir que a situação das pessoas envolvidas tende a não ser solucionada a curto prazo. As alternativas oferecidas pelo poder público foi de abrigá-las em instalações provisórias como albergues e escolas, mas nenhuma solução definitiva foi sequer sugerida. E em médio e longo prazo o problema das pessoas em situação de rua tende a aumentar. Segundo veiculado pela imprensa, atualmente há cerca de setenta ocupações de edifícios públicos e privados no centro de São Paulo, e as declarações à imprensa feitas por representantes da Prefeitura Municipal de São Paulo e do Governo do Estado de São Paulo indicam que haverá uma intensificação nas ações de reintegração de posse. As justificativas para essa intensificação é a suposta segurança das pessoas que residem nos imóveis ocupados. Todavia, não há por parte do poder público nenhuma ação que visa aumentar a oferta de unidades de moradia para as pessoas de baixa renda e pessoas em situação de rua.
Concluímos nosso relato com a transcrição de uma palavra compartilhada pelo reverendo Oswaldo dos Santos Júnior:
“Irmãos e irmãs. A três semanas atrás estive em Beirute no Líbano, e estive por 4 dias também em um campo de Refugiados Palestinos. Dialoguei com muitos palestinos sobre suas condições, e também sírios. Uma situação seria é triste. Mas hoje ao sair do Largo do Paissandu, onde estão os moradores dos prédios me senti muito mal, com o caos em que estamos neste país. Pessoas sem um lugar para repousar, muitas crianças sem irem para escola, sem espaço... precisamos orar e agir na direção destas pessoas que sofrem!”
Reforçamos nossos votos de estima e felicitações, orando sempre por seu ministério.
Assessoria Regional de Promoção dos Direitos Humanos da Igreja Metodista 3RE
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